10/10/2013

CAPÍTULO UM



Era uma madrugada de fevereiro quando a insônia não estava mais permitindo que eu dormisse. Olhei para a tela do celular que indicava três e trinta e sete da madrugada, duas chamadas perdidas e uma mensagem.

Parabéns, linda da tia! Amo você.
Dani.
00h06min

Era oficialmente meu aniversário.

Nunca me entusiasmei com aniversários, muito menos com festas de aniversário. (a) Sempre achei tolice uma pessoa comemorar por estar ficando velha (b) Se é meu aniversário, eu que tenho que ganhar presentes, e não oferecer comida grátis pra um bando de gente que não tem o que fazer.
Decidi calçar umas pantufas velhas do lado da cama e ir olhar pela janela alguns jovens voltando dos blocos de carnavais que estavam acontecendo por toda cidade. A rua estava cheia. Havia um grupo de bêbados dizendo frases sem sentido em frente a uma igreja no final da rua, e o pastor negro e alto tentava pacientemente afastar o grupo de baderneiros. Num grupo mais à frente, havia jovens com, no máximo, 20 anos, várias tatuagens e piercings pelo corpo e um cheiro tão forte de bebida alcoólica misturado com cigarros ou algo do tipo que pude sentir do segundo andar da casa. Avistei duas meninas que não aparentavam ter mais que 15 anos, ambas com cabelos azuis, uma com uma garrafa de vodca na mão e outra com um maço de cigarros. Questionei-me o porquê não ser como eles. Ter uma vida interessante, beber e fumar na hora que eu quiser e sair à noite sem hora pra voltar. Olhando assim, de longe, eles pareciam ser tão legais. Sem regras, sem responsabilidades, sem compromissos, nada.  Sempre fui o patinho feio na roda dos amigos isso quando eu tinha amigos e nunca consegui me associar nos grupinhos de pessoas maneiras como aquele grupo. Talvez por nunca ter sido sociável. Talvez por nunca ter sido notável. Talvez por nunca ter sido amável.

O pastor negro e alto continuava tentando afastar o grupo de baderneiros.

          Deixei de me afogar em pensamentos que nunca iriam me levar a nada enquanto ainda olhava pela janela, afinal, era meu aniversário de dezoito anos. Percebi que sons do qual eu não estava conseguindo identificar vinham do primeiro andar. Andei lentamente até a porta e fiz silêncio absoluto no quarto para tentar identificar aqueles sons.
Eram vozes abafadas e estranhas.
Estranho sussurrei. Àquela altura eu só conseguia imaginar o pior, resultado de um sequestro que sofri quando tinha nove anos. Assassinos, assaltantes ou sei lá o que poderiam ter invadido a minha casa. Nunca fui uma pessoa muito corajosa, então decidi pegar o taco de Baseball velho e imprestável que ganhei de natal da tia Alicia que estava de baixo da cama há séculos Não é mais tão imprestável pensei.


* * *

          Desci as escadas atentamente e fazendo o mínimo de barulho possível quando percebi que a cada degrau que eu descia a sala de estar fazia mais silêncio. Eles sentiram a minha presença. Decidi descalçar as pantufas para evitar barulho e segurei o taco de Baseball com as duas mãos como se fosse rebater uma bola como toda a força.
Parei no primeiro degrau da escada.
Fez-se um silêncio perturbador.
Numa fração de segundo, tive a maldita sensação de estar sendo vigiada e logo em seguida vi a luz da sala de jantar se acender.
SURPRESA! Disseram todos os que estavam ali. Soltei o taco de Baseball no chão e levei minha mão aos olhos, não estava conseguindo enxergar normalmente com a claridade repentina.
Que merda é essa?senti meu rosto ficar completamente vermelho quando percebi que era uma festa surpresa. Olhei para todos em volta e em seguida olhei para mim. Eu estava vestindo a parte de cima de um pijama azul bebê com bolinhas brancas e um short pequeno rasgado que eu tinha desde uns catorze anos.
Fique calma, querida Disse meu pai colocando uma tiara da Minnie em minha cabeça e me abraçando. Sua pele envelhecida e várias olheiras ao redor dos olhos são resultado de vários anos de dedicação à pediatria, cuja profissão tenho ódio mortal. Hoje é o seu dia!
Tire a mão de mim! Soltei um grito ao perceber que aquele homem estava encostando-se a mim.
Todos ficaram em silêncio olhando fixamente para mim quando percebi que eles não sabiam o motivo daquilo, a não ser a tia Dani.
Deixem de bobeira A tia Daniele falou olhando para todos ali. Ela era uma mulher de 30 anos, mas se vestia como uma garotinha de 15. Seus cabelos longos e loiros vivem numa competição com seus seios siliconados para saber quem chama mais atenção. Seus olhos verdes ganham ainda mais destaque com seu batom vermelho like a bitch. Hoje é o seu dia! E então olhou pra mim.


* * *


          Na Inacreditável Tolice de Comemorar Estar Ficando Velho ou só festa de aniversário estava o tio Robert com a sua ruiva e megafofa esposa Alicia, seus filhos gêmeos Martin e Peter hiperativos que puxaram os cabelos ruivos da mãe, três “amigas” do ensino médio e uns cinco vizinhos.
O tio Robert sempre foi o tipo de tio preferido, apesar de ter se afastado da família pra ir morar com Alicia na zona oeste da cidade. Suas blusas nunca foram grandes o suficiente para seus musculosos braços e seus olhos negros eram um tanto provocantes com a sua cabeça raspada. Tá, confesso. Tenho um amor platônico por ele. Afinal, que garota que nunca teve um relacionamento sério não teria uma quedinha por um homem daquele? Tentei disfarçar ao perceber que já estava a algum tempo olhando fixamente para seus braços musculosos.
          
          A festa já estava ficando próxima do fim quando ouvimos um barulho de sirene bem próximo. Era a polícia.
— Foram os malditos Wilson do final da rua Minha mãe abriu a porta com um olhar assustado antes que sequer pudéssemos dizer algo Ligaram para a polícia por reclamações do som alto explicou.
Todos saíram de casa enquanto eu fiquei apenas observando através da imensa janela da sala. Apesar dos dias quentes e abafados que predominam em boa parte do ano no Rio de Janeiro, as árvores floridas estavam se aperfeiçoando junto ao nascer o sol com uma temperatura agradável. Percebi o quanto amava a primavera do Rio de Janeiro, principalmente pelo cheiro de margaridas no ar.

Terra chamando Sophie Ouvi uma voz de fundo. Era a tia Dani.
Ah, oi tia Dani Dei um sorriso gengivital pra ela. Chamava-o assim por boa parte do meu sorriso ter somente gengiva, algo que me incomodava. O que dizia?
Sobre a “tia” eu não sei, mas sei sobre a tal de Dani. Ela disse num tom de reprovação Enquanto a Dani for jovem o suficiente para conseg...
Para conseguir um namorado, nunca a chame de tia e blá blá blá Completei revirando os olhos Tá bom, DANI, o que você dizia?
Perguntei se você não vai lá fora.
Não, to bem aqui, acho que eles vão conseguir resolver sozinhos Respondi olhando através da janela.
Eles? Resolver? Sozinhos? Ela disse sarcasticamente enquanto fazia um decote em sua blusa Você ainda não viu nada. E NÃO ME CHAME DE TIA Ela gritou ao fechar a porta.
Eu ri.
O tio Robert segurava a Sra. Moraes enquanto meu pai segurava minha mãe, para evitar que as duas saíssem no tapa. A Alicia estava correndo atrás dos seus gêmeos hiperativos em volta do quintal como sempre E a Dani... Ah, estava sendo A Dani. Seus seios siliconados pareciam que iriam explodir em meio a tanto decote, no qual os policiais não conseguiam parar de olhar.
Talvez A Inacreditável Tolice de Comemorar Estar Ficando Velho fosse legal.

          Subi correndo as escadas quando encontrei a pequena miniatura de gente Ou Breno, meu irmão.
Não era pra você estar dormindo, mocinho? Perguntei com as duas mãos na cintura se fazendo de durona.
Antes que ele sequer pudesse responder, colocou pra fora tudo o que havia comido escondido enquanto todos estavam na sala. E pior, vomitou em mim.
Percebi que ele não havia vomitado à toa. Ele vomitou por comer bolo de chocolate. Ele era alérgico.


* * *


Caramba, Breno, você sabe do risco que correu por ter comido aquilo? Eu dava sermões atrás de sermões enquanto dava banho nele E se você não tivesse vomitado? Você poderia ter parado no hospital, sabia?
Seu cabelo louro de tamanho médio sempre fica imóvel em meio ao gel. É quase como uma versão masculina E em miniatura da Dani, pois também pegou os olhos verdes da tia. Achei melhor parar de falar, era uma criança de apenas seis anos.
Todos os meus coleguinhas dizem que é bom Ele falou quase que como um sussurro olhando pra mim Eu... Eu só queria ser maneiro como eles.
Ah, Breno Eu o abracei com força consequentemente molhando minha blusa Eu sei como você se sente E então o afastei ajoelhada, olhando no fundo dos seus olhos Prometa pra mim que você não vai fazer coisas assim para ser igual a seus amigos, ok? Você é único e eu te amo você comendo chocolate ou não.
Eu prometo ele disse em seguida dando um sorriso banguela.
Naquele momento eu havia percebido que o que eu tinha dito pra Brian serviria pra mim também. Acho que sou tão inocente quanto você sussurrei.


* * *


Desci as escadas com o Breno nas costas me fazendo de cavalinho quando todos que estavam lá fora voltaram pra casa. O tio Robert sentou no sofá de frente para a TV levando suas mãos ao rosto, pensativo. Minha mãe estava aparentemente irritada com ele.
Era pra você ter me deixado bater naquela mulher ela berrava com o tio Robert quase o enforcando de raiva. Seus cabelos negros iam até os ombros dando vida ao rosto já envelhecido.
Como foram lá fora? Perguntei enquanto colocava Brian no chão.
Ótimo A Dani falou com um sorriso estampado no rosto Eu te falei que iria conseguir resolver sozinha.
Só se resolveu um encontro com o tal major Vieira, porque resolver o problema que é bom... O tio Robert falou arqueando as sobrancelhas dando um sorriso pra mim. Tentei desviar o olhar dando um sorriso gengivital.

Todos riram enquanto Dani cruzou os braços aparentando frustração.

Sinopse

Sophie
Dezessete anos, alta, pele morena clara. Seus grandes olhos castanhos claros são quase do mesmo tom de seu cabelo encaracolado de tamanho médio. Sua estatura é baixa, diferentemente da sua vontade de ser uma garota notável e popular.

Benjamin
Dezoito anos, pele clara e sorriso radiante que vai de orelha a orelha. Seu cabelo estilo Tom Cruise é uma combinação perfeita com seus olhos cor de mel. Mesmo não sendo do tipo pega todas, ele consegue ser o cara mais desejado do ensino médio.